Fuseli: O sonho de Belinda, 1780-1970.
Não se sabe o quanto de verdade há nisto, mas, conta-se que em meados do século XIX, na cidade de São Paulo, surgiu a Sociedade Epicureia, um grupo de jovens poetas estudantes de Direito que se reuniam para a prática de orgias, rituais macabros e cultos satânicos.
A Chácara dos Ingleses (que tinha tal nome porque seu primeiro morador foi o inglês John Rademacker), ficava em frente ao cemitério de indigentes e de escravos, e era uma espécie de república, onde moraram estudantes como ÁLVARES DE AZEVEDO, BERNARDO GUIMARÃES e AURELIANO LESSA, clássicos poetas do Romantismo brasileiro. Esta república supostamente foi sede da Sociedade Epicureia, por volta de 1845. Relata Pires de Almeida no livro “A Escola Byroniana no Brasil” que os jovens poetas, à noite, no cemitério ou na Chácara, vestidos de longas capas negras, fumavam charutos, bebiam vinho e conhaque em taças feitas de crânio roubado do Cemitério dos Aflitos, liam versos de Lord Byron e promoviam cerimônias sombrias e orgias com prostitutas. Assim, os jovens poetas do "mal do século" para se livrarem do "spleen"(*), davam vida às suas imaginações românticas, inspirados em Byron, e, destarte, escandalizavam a sociedade conservadora do tempo que era aquela insípida São Paulo de no máximo 15 mil habitantes.
O nome da sociedade vem do filósofo grego Epicuro (341-270 a.C.). Epicuro pregava o gozo dos bens materiais e espirituais do mundo com ponderação e medida. Porém, sua doutrina, com o passar do tempo, foi desvirtuada e tornou-se sinônimo de busca exclusivamente material; de volúpia e prazeres terrenos. Esta conotação foi usada para designar a Sociedade Epicureia.
* "Spleen" é uma palavra inglesa que significa "baço", órgão ao qual era atribuído no século XIX, a propriedade de determinar o estado melancólico ou depressivo de um indivíduo. Em francês o termo representa o estado de tristeza pensativa ou melancolia, e foi popularizado pelo poeta Charles Baudelaire (1821-1867) ao publicar um conjunto de quatro poemas sob o título "Spleen". O "spleen" foi uma das principais características do Romantismo e, sobretudo, da sua segunda geração. Era usado para denotar melancolia extrema, pessimismo, tédio infindável, desejo pela autodestruição e, por conseguinte, pela morte, vista como a única solução definitiva para os problemas e os sofrimentos do ser humano.
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