Acordei com o rangido do balanço enferrujado do quintal de casa. Levantei-me perguntando quem estaria se balançando às duas horas da madrugada e olhei através da janela notando estranhamente a presença de uma menina com uma boneca jogada ao lado. Olhei em volta, mas não havia qualquer adulto a acompanhando, então desci e fui até lá. E ao abrir a porta dos fundos, presenciei o balanço se movendo sozinho. A menina já não se fazia presente, mas sua boneca continuava no chão, então me abaixei para pegá-la e notei o quanto estava úmida e suja, coberta com uma terra escura. Era uma boneca antiga de porcelana e em seu vestido rendado havia o nome “Cinthia” bordado.
Tão logo a criança aparece repentinamente atrás de mim, dizendo que aquela boneca era sua. Tomei um susto, mas logo perguntei por que havia jogado ela ali, e o que fazia sozinha pela rua naquele horário. Ela então falou que não havia trazido a boneca, que na verdade tinha vindo buscá-la. Estendi o braço oferecendo-lhe a boneca, mas ela se recusou a pegar e pediu para que eu a levasse até sua casa. Falei que se não fosse longe lhe acompanharia, e pedi para que me desse a mão, mas ela falou que iria na frente e seguiu rapidamente. Então fui atrás, mas logo ela foi se distanciando até eu perdê-la de vista.
Continuei caminhando naquela direção e ao dobrar a esquina, vejo ela parada em frente ao cemitério, perguntei o que ela queria ali e ela falou que por ali chegava mais rápido, e eu a segui adentrando naquele sombrio e horrendo cemitério acreditando ser um atalho para sua casa, então a vejo parada no meio do caminho apontando para uma cova recém escavada dizendo que morava ali, e quando olhei, havia uma foto sua com seu nome e datas do século XIX em uma lápide. De imediato, soltei a boneca e fui me afastando dela. Ela então disse que eu só precisava colocar a boneca de volta e fechar a cavidade. E como num piscar de olhos, desapareceu.
Seja lá quem violou aquele túmulo, levou algo ligado àquela menina que a fez sair de seu repouso para rondar seu pertence, e eu enterrei aquela boneca a fim de lhe proporcionar o descanso, e em seguida retornei para casa.
Na noite seguinte, volto a despertar com os mesmos rangidos do balanço no quintal e quando olho, a garotinha está mais uma vez sentada nele e quando percebe minha presença diz:
— Minha mãe deixou eu ficar com você.
(James Gallagher Junior - para o nosso especial Halloween)
O escritor também faz parte da Antologia VAMPÍRICA - Contos de terror sobre vampiros, disponível em nossa loja - soturnos.com/product-page/vampirica
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