— Doces ou travessuras? — perguntou o pequeno Jimmy, com sua maquiagem de Peniwise e a roupa que tentava imitar o palhaço vindo do espaço, frente à moça apática, que parecia ter pouco mais de 20 anos, parada do outro lado da porta.
— Tá bom, tá bom! — bufou a garota, se dirigindo para o interior da casa com ar de quem estava cansada daquilo. Voltou com dois bombons, um drops de menta e um saquinho de jujubas, jogando-os dentro da sacola que o menino fantasiado à sua porta trazia nas mãos.
Jimmy se distanciou da casa, ouvindo a moça bater a porta com força às suas costas. Devia estar cansada de atender crianças coletando doces naquele dia. Achou-a uma idiota. Era só não atender a porta ou colocar uma bandeja de doces do lado de fora, com o aviso “pegue apenas um”, como muitos faziam. Jimmy detestava pessoas que não tinham “espírito de Halloween”, e aquela que lhe atendera há pouco parecia ser uma dessas.
Analisou o interior da sua sacola, admirando a quantidade de doces, balas, chocolates, pirulitos e chicletes dentro dela. Estava ansioso para chegar em casa e começar a se deliciar com aquelas iguarias. No entanto, decidiu que faria mais uma investida naquele fim de tarde. Havia uma casa no final da rua, cujo morador quase nunca era visto. Mudara-se fazia pouco tempo. Seria lá que ele arriscaria a sorte. Talvez o homem (ou mulher), apesar de recluso, fosse generoso. Quem sabe não ganhasse uma barra de chocolate ao leite, daquelas grandes?
Aproximou-se da casa, sentindo um vento frio de fim de tarde (um pouco incomum naquela época do ano, geralmente quente, apesar do outono). Procurou uma campainha e não a encontrou, dessa forma, decidiu bater à porta.
Escutou passos arrastados, pesados e lentos vindos na direção da entrada, ouviu o clique da maçaneta sendo aberta e a porta então ficou entreaberta, revelando pouco do ambiente escuro do interior da casa.
— Doces ou travessuras? — perguntou Jimmy, sentindo um certo estranhamento.
Um par de olhos vermelhos surgiu em meio à escuridão revelada pela fresta da porta e uma boca grande, que mesmo com o ambiente sem iluminação, Jimmy percebeu ser cheia de dentes pontiagudos, respondeu com voz grave, arranhada:
— Travessuras!
Uma enorme língua, cheia de verrugas se projetou para fora da porta, envolvendo o corpo do garoto e puxando-o para o interior da casa. Jimmy não teve nem tempo de gritar e sua sacola, recheada de doces, ficou caída em frente à porta, que se fechou bruscamente, após “engolir” o menino.
Alguns segundos depois, um nova fresta se abriu na entrada da residência, e a mesma língua descomunal se projetou novamente, dessa vez “sugando” a sacola de doces de Jimmy para o interior da casa. Afinal, após a refeição, nada como uns doces para a sobremesa.
(Mauro A. Souza - para o nosso especial Halloween)
O escritor também faz parte da Antologia VAMPÍRICA - Contos de terror sobre vampiros, disponível em nossa loja - soturnos.com/product-page/vampirica
Obrigado, Ellen!!!🥰🥰🥰🥰🥰🥰🥰
Excelente, o final ficou demais, além de travessuras os doces não ficaram de fora. Parabéns ao autor
Era exatamente essa a ideia que tinha em mente. Obrigado pelo feedback 🙏🏼🙏🏼🙏🏼🙏🏼🙏🏼
Nitidamente me remeteu como se fosse uma narrativa de uma antologia cinematográfica como "Creepshow" ou o "Além da imaginação". Enquanto eu lia eu via o filme na minha mente. Simplesmente fantástico! Travessuras sempre 👹
Obrigado, Ricardo! Captou com excelência a essência desse miniconto. Me vali de recursos de velhas HQs , com as da lendária EC comida, e as nacionais da D'arte, Nova Sampa, Vechi e Bloch. Foram meu caminho para a literatura. Gratidão, meu irmão. Eterna!!!