Ela abriu os olhos lentamente encandeados por aquela forte luz branca. Apenas ouviu o som de sua respiração ao tentar perceber que lugar era aquele, possuía uma forte dor de cabeça aguda que tocava sua nuca até seus olhos. Como um choque sentiu o corpo estremecer e formigar. Assim, pela primeira vez se dando conta da existência dele, sentia-se frágil a um ponto crítico a dor tirava toda a sua concentração e raciocínio. Algumas imagens passavam de relance em sua mente, imagens estranhas de cabelos longos dourados encharcados em sua frente. A luz se tornava insuportável aos seus olhos que não estavam acostumados com aquele ambiente. Naquele momento ela passava a entender o que estava acontecendo ao eu redor ao ouvir uma voz feminina que dizia:
- Está tudo bem, vai ficar tudo bem!
Abrindo os olhos novamente, a luz ainda forte permitia que tudo se tornasse mais nítido. Ícones de informações apareciam agora em uma visão distorcida. Podia identificar a silhueta feminina ao seu lado, porém não seu rosto, a moça tocava seu braço delicadamente a preparo de uma injeção o que causou suas primeiras palavras.
- O que...?
– Só trouxe algo para que você possa se sentir melhor!
Assim foi aplicada uma injeção cuidadosamente em seu braço direito, depois a enfermeira retirou as luvas de borracha bem em frente de seus olhos. Desejou melhoras e levantou a cama de hospital. O local parecia limpo e organizado. Paredes e lençóis claros a um ponto irritante, não havia enfeites na parede ou flores em um vaso apenas uma única cama isolada com uma lâmpada fluorescente na parede ao lado. A sua frente uma TV Sansung led tinha sido recentemente ligada pela enfermeira, um noticiário desinteressante estava no ar, mas ao prestar atenção ela viu que era sobre um acidente de carro.
Agora era fácil se lembrar, mas forçava a mente a esquecer, enquanto massageava a cabeça e chorava sem controle, alguns segundos depois via seu próprio reflexo no vidro da janela ao lado da cama, pôde ver seu cabelo vermelho quente que cobria o seu rosto e uma bata de hospital azul claro que vestia. Suas mãos estavam trêmulas e sua garganta seca. Precisava se levantar então viu a porta do banheiro e com esforço foi até ele. Caminhou empurrando o cabide do soro até se encontrar em frente ao espelho da pia.
Observou-se por alguns segundos seu rosto estava muito machucado com arranhões e sua cabeça doía latejante ainda com o aspecto inchado. Seus olhos estavam desacreditados perante sua imagem que se encontrava naquele estado mórbido de recuperação, a boca apresentava rachaduras nos lábios, e tinha um corte bem abaixo do olho esquerdo. Ela derramou uma lágrima enquanto lembra-se de levar uma forte pancada na cabeça ao ter visto uma mão pálida empurrar seu rosto contra um vidro enorme seguida de seu grito histérico.
Mais uma vez seu corpo estremeceu tentando esquecer sua aparente alucinação, ela ouviu o barulho de rodinhas no chão. Olhou pela porta e uma enfermeira trazia um carrinho com comida.
- Hora do lanche! – disse ela.
Seu estômago estava embrulhando mais ela mesmo assim voltou para a cama sentou-se e observou a comida, um prato de sopa e um copo de suco que não pareciam muito agradáveis. Ela então viu o rosto da enfermeira emoldurado por cabelos dourados, aquela imagem transmitiu a sua mente a agonia que tinha sentido antes fazendo com que um grito se soltasse de seus lábios.
Aterrorizada ela atacou a enfermeira com a colher da sopa, a mulher tentou segurar seus braços agitados quando ela conseguiu agarrar o objeto e afundar o cabo no olho direito de sua oponente de uma forma abrupta. A enfermeira saiu correndo porta a fora com o cabo da colher enterrado no próprio olho que fez derramar sangue sobre seu rosto e uniforme branco. Então, a paciente jogou-se para o lado da cama se agachando numa tentativa de esconder sua presença no quarto ficando em uma posição fetal exprimindo ruídos por entre os lábios, ela arrancou o soro da veia com força e continuou encolhida no, mesmo lugar até que um enfermeiro forte de olhar gélido entrou pela porta acompanhado por outro homem. Ambos começaram a tentativa de fazê-la voltar para a cama o que conseguiram fazer a força bruta.
Ao acordar ela percebeu novamente onde estava lembrando-se do que tinha acontecido do que tinha feito e do que a tinha trazido aqui. Percebendo que amarras a aprisionavam na cama, nos pés e nas mãos um grito novamente se esvaiu de sua garganta. As memórias se tornavam nítidas, ela nunca teve medo de lendas. Por diversão a meia noite ela tinha chamado três vezes pelo nome daquela que não deveria sair de seu descanso, as memórias
vieram à tona aos poucos.
* * *
Ela tinha chegado de uma festa chata e se sentia entediada, por isso, brincou em frente ao espelho do banheiro da sua casa dizendo em voz alta três vezes: LOIRA DO BANHEIRO, LOIRA DO BANHEIRO, LOIRA DO BANHEIRO. Encarou sua própria face por segundos e sem nada ocorrer um sorrisinho de desdém escapou de seus lábios, pensando “loira do banheiro que nada... Isso é história de dia das bruxas”.
Sem se preocupar com nada ela tirou as roupas e entrou no chuveiro, a ducha quente fez com que o vapor embaçasse o Box de vidro do banheiro, enquanto relaxava ao passar as mãos pelos cabelos molhados ela sentiu um calafrio na nuca. Então prendeu a respiração ao ter um leve susto por conta daquela sensação, ao olhar de relance para o lado pôde ver uma mão ensanguentada encostada no vidro.
Paralisada pelo medo a única coisa que conseguiu fazer foi emitir um grito agudo, quando pôde perceber já estava sendo arrastada nua para fora do banheiro. Uma figura cadavérica feminina de longos cabelos loiros e molhados, vestida de branco a tinha pego. Era uma visão entrecortada, tinha sido agarrada pelos cabelos, ela foi arrastada por aquela figura que a olhava direcionando aqueles olhos negros em direção aos dela como pena por ela ter violado aquele descanso, ela a segurava com muita força pelos cabelos enquanto a chacoalhava para forçá-la a sair do lugar. A mulher tentava se contorcer enquanto chorava histérica.
Ela foi levada daquela forma escada abaixo a fazendo se debater cada vez mais tentando se livrar daquela criatura se machucando a cada encontro dos joelhos com os degraus, mas era como se uma força anormal a carregasse. Aquela pessoa esguia e magra que a arrastava exibia essa força e morbidez obscuras, daquele jeito ela continuou a arrastar a moça e a jogou porta a fora de sua casa, na rua no meio da pista ela arremessou a mulher no chão em direção a um carro que estava passando naquele instante.
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