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A primeira morte a gente nunca esquece

Atualizado: 4 de ago. de 2020


— E aí, vai querer o quê, um boquete ou serviço completo?


O indivíduo, de ar sombrio, olhos frios como gelo, demorou para responder. Segurava o volante com mais força do que era necessário. O carro percorria a estrada deserta noite adentro, os faróis iluminando o breu à sua frente.

— Quando chegar lá a gente vê. — Respondeu finalmente , com uma voz que pareceu ter saído do fundo de um túmulo. — qual é o lugar mesmo?


— É aqui pertinho, em frente a um cemitério abandonado. É um lugar deserto essa hora da noite. Ninguém vai incomodar a gente lá.


O homem olhou de soslaio para a prostituta ao seu lado. Estava evitando encará-la. O rosto bonitinho e risonho dela aumentava ainda mais o seu ódio, o seu nojo. Eram todas umas malditas putas, Assim como sua mãe também foi. Nenhuma mulher na face da terra prestava. Elas poluíam o mundo. Todas mereciam morrer. Observou pelo canto dos olhos o belo par de pernas da jovem. Tão branquinhas e tão bem torneadas, saindo daquela minissaia horrivelmente curta. Sentiu-se excitado, mas dentro da calça seu membro continuava tão ridiculamente flácido como uma bola de assoprar vazia. Isso só fazia sua raiva crescer. As pernas dela eram tão branquinhas, tão sedosas, mas logo iriam estar tingidas de vermelho. É, ia começar pelas pernas. Ia rasgar aquela pele alva. Retalhar elas todinhas.

— Entre à esquerda.


A orientação da jovem interrompeu seus sombrios pensamentos. Girou o volante e entrou na rua indicada.

— Por que você está nessa vida? — Perguntou ele, de repente. — É por prazer ou por necessidade? Você se sente realizada, é isso? dando essa buceta a todos os homens da cidade?


— Ei, cara, que papo furado é esse?


— Vocês são todas iguais. Acham que podem ter todos aos seus pés, ter tudo o que quiserem, só porque têm uma buceta no meio das pernas. Vocês são desprezíveis, São a causa de todos os males que existem no mundo. Vocês não são capazes de amar ninguém, só fingem que amam. Vocês nos usam o tempo todo, só pra conseguir o que querem; mastigam, mastigam até não restar mais nada. Depois cospem o bagaço fora. Vocês são demoníacas. Não merecem viver.


A jovem engoliu em seco. Um suor gelado começou a escapar pelos seus poros. Seu coração parecia que ia sair pela boca, suas mãos úmidas tremiam incontrolavelmente.. Uma viatura da polícia passou em alta velocidade. A jovem voltou-se e viu as luzes traseiras do veículo sumirem rapidamente na escuridão da noite. O grande portão do cemitério abandonado, com o seu nome em letras de ferro, despontou diante do carro, iluminados pelos faróis.

O homem estacionou de frente para a necrópole desativada.

— É aqui, não é? — Perguntou.


A jovem olhou ao redor e não divisou nada além de uma estrada de barro do seu lado e um extenso matagal cercando tudo. Não havia vivalma naquele lugar. O cantar monótono dos grilos rompia violentamente o silêncio reinante. O homem desligou os faróis e ligou a luz interna do veículo. Enfiou, em seguida, a mão embaixo do banco e retirou uma faca grande, de açougueiro, com um cabo branco.

— Tira a calcinha e me mostra essa buceta. Vamos, porra. — Ordenou, apontando a lâmina para sua vítima.


— Certo, tenha calma. Eu vou fazer o que você quiser, tá legal? Só não me machuque.

A jovem tirou a peça íntima, suspendeu a minissaia e abriu as pernas. O homem encarou aquela genitália feminina arrogante, que parecia afrontá-lo e desafiá-lo. Na expressão dele havia um misto de ódio e fascinação.


— Abra. — Ordenou enquanto arriava o zíper da calça e puxava o pênis flácido para fora.

A mulher abriu os grandes lábios. Tinha os olhos fechados e o rosto virado, contraído numa expressão de repugnância. O homem manipulou o pênis de todas as formas possíveis ao mesmo tempo em que procurava o estímulo na visão do órgão genital feminino à sua frente. No entanto, a ereção não aconteceu, apesar de todas as tentativas.


— A culpa é sua. — Gritou ele para a jovem. A frustração que sentia logo deu lugar a um estado de fúria incontrolável. — Você está rindo de mim, não é, sua piranha de merda? Acha divertido, não é?


— Eu não estou rindo de você. — Disse a mulher, apavorada.


— Está sim, sua puta mentirosa. Não está demonstrando, mas está rindo por dentro. Tá pensando que me engana? Eu posso sentir o seu escárnio. Você fede a escárnio. Abra mais as pernas, sua puta. Escancare elas.

A mulher obedeceu. O homem encostou a longa lâmina na genitália dela.

— Se eu não posso te penetrar de um jeito, vou te penetrar de outro. Vamos fazer um sexo hard com minha faca.


— Por favor, eu faço o que você quiser, mas não me machuque. — Implorou a jovem, sentindo a frieza do metal em suas partes íntimas. Ela olhou para fora do carro, em desespero, à procura de uma salvação, mas não havia ninguém lá para livrá-la. Só o denso matagal e o cemitério abandonado, testemunhas mudas e inúteis de seu infortúnio. O cantar dos grilos atingiam seus ouvidos dolorosamente, como sons infernais.

O homem começou a empurrar a lâmina vagina adentro, mas não pôde continuar, porque sua cabeça explodiu uma fração de segundos depois que um estrondo ecoou na escuridão da noite. Pedaços de cérebro, juntamente com sangue e massa encefálica, espirraram no rosto e dorso da jovem.

— Que porra, Malu, Por que você demorou tanto? — Gritou ela para outra mulher postada na janela do motorista, segurando uma espingarda com o cano ainda fumegante. — Esse filho da puta estava prestes a me esfolar viva aqui.


— A culpa foi sua. Nós combinamos pra você levar o cara lá pra estrada de barro. Você pega e deixa o cara estacionar aqui. Tive que vir andando de lá da casa do caralho até aqui. Sua sorte é que eu vi os faróis do carro. Você também é foda. Tanto homem pra escolher e você foi logo escolher esse traste aí.


— Porra, Malú, como que eu ia saber que esse filho da puta era uma merda de um psicopata.


A jovem empurrou o cadáver do homem que estava sobre o seu corpo. Saiu do carro, sentindo as pernas ainda trêmulas.

— Esse porra feriu minha xereca. Tá ardendo.


— Você tá toda melecada. — Disse Malu, rindo, quando sua amiga se aproximou.


— Muito engraçado. Sua vaca. E aí, qual foi a sensação de matar?


— É muito foda. É super excitante. Fiquei até molhada.


— É, mais da próxima vez é você que vai bancar a prostituta, e eu vou puxar o gatilho.


— Tá certo. Vamos tacar fogo logo nesse carro. Tá na hora de fazer churrasco de cadáver.


— Deixou o carro onde? Comprou a gasolina?


— Claro, eu ia esquecer? Tá na mala. Vá lá pegar o carro. Deixei ele na estrada de barro, lá embaixo. tome a chave.


A amiga se afastou enquanto Malu ficou ali, no ermo, Observando o cadáver dentro do carro e refletindo sobre o seu primeiro ato de matar. Era um momento único. A partir dali não haveria mais barreiras morais. O que importava agora era a adrenalina correndo nas veias, o prazer, a sensação de poder. Fechou os olhos e escutou, com mais atenção, o cricrilar dos grilos.

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