Quando terminei a evocação, senti minhas pupilas revirarem para cima, e foi como se meu espírito saísse de mim, dolorosamente, me fazendo gritar. Ouvi cantos, chocalhos e batidas de tambor e uma senhora apareceu frente a mim.
— Filha... Há anos ninguém chama por mim. O que deseja?
— Sou da quarta geração após você.
— Fui esquecida pelos que vieram depois de mim. O que te fez pensar nessa pobre anciã?
— Isto aqui... – Falei, mostrando a ela uma caixinha de madeira contendo objetos como tesouras, agulhas e facas. — Sei que isso pertenceu à senhora. Preciso que me guie em um ritual.
— São objetos de tortura. Cada deles já foi usado.
— Quero usá-los uma vez mais.
Os olhos dela faiscaram. Seus grandes cabelos enfeitados com penas, pareciam voar.
— Todo sacrifício tem um preço.
— Estou disposta a pagar.
— Muito bem...
— Só me diga o que fazer.
Ela me entregou um pequeno boneco de pano e disse:
— Já sabe o que fazer com os objetos da caixinha. O que acontecer com o boneco, acontecerá com o alvo.
— Ótimo.
— Entretanto..., você sentirá tudo em sua própria pele, embora permaneça intacta. Lembre-se disso.
Sentir a dor do inimigo não me parecia justo, mas não me impediria de ser impiedosa.
Naquela mesma noite, após proferir várias invocações amaldiçoadas, senti as piores dores de toda a minha vida: uma faca rasgando meu abdômen, meus olhos sendo furados e minhas vísceras arrancadas. E quanto mais doía, mais sentia prazer, por saber que o alvo estava tendo uma morte agoniante. Quando incendiei o boneco, gritei tanto que vieram me socorrer, mas antes, senti minha cabeça ser arrancada, me fazendo perder a consciência.
Quando acordei, estava intacta, conforme o esperado. Liguei a TV e vi noticiarem um assassinato chocante e misterioso em um bairro vizinho.
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