"Frankenstein: ou o Moderno Prometeu", escrito em 1816, por Mary Shelley (1797-1851) é um dos maiores clássicos da Literatura Gótica e do Romantismo, e uma das obras mais conhecidas da literatura universal de todos os tempos. É quase impossível encontrar alguém que nunca tenha, ao menos, ouvido falar do nome "Frankenstein", apesar de as pessoas comumente chamarem por esse nome o "monstro", quando na verdade este é o nome do seu criador.
O romance, geralmente em clima tétrico e dramático, conta a história de Victor Frankenstein, um jovem estudante de ciências naturais, que fica fascinado pela hipótese de poder criar vida a partir da matéria morta, e assim, empenha-se para chegar a este fim. Com o passar de dois anos, após muito trabalho e esforço, ele consegue. Entretanto, o resultado não sai como o planejado: a sua criação é um ser amarelo, monstruosamente feio, de 2,40 m de altura; nas suas palavras "nenhum mortal seria capaz de suportar o horror daquele rosto." No entanto, apesar de sua aparência, o "monstro" demonstra ser alguém sensível, bondoso e inteligente, que apenas ansiava pelo amor e pela afeição, porém o mundo lhe dá um tratamento proporcional à sua monstruosidade exterior, ignorando as suas qualidades, o que resulta em seu profundo sentimento de vingança e ódio, sobretudo por seu criador, Victor Frankenstein, que também o despreza e repudia. A partir daí toda a desgraça recairá sobre Victor e aqueles que ama.
O romance é de uma criatividade impressionante, e mais impressionante ainda é saber que foi escrito quando a autora tinha apenas 19 anos. Interessante também é a história da origem de tal obra: em 1816, Mary Shelley, em companhia do seu marido, o poeta Percy Shelley, e de sua meia-irmã Claire Clairmont, passou o verão num castelo do poeta Lord Byron, próximo de Genebra, na Suíça, onde também se encontrava o médico John Polidori. Numa certa noite, após lerem uma antologia alemã de contos de fantasmas, Byron propôs que cada um escrevesse uma história de terror, uma espécie de concurso entre eles. Byron então escreveu um conto conhecido hoje por "O enterro", mas que nunca foi terminado. Percy Shelley escreveu uma história baseada nas primeiras experiências de sua vida. Polidori escreveu o conto "O vampiro", primeira história sobre vampiros em língua inglesa; tornou-se um clássico da Literatura Gótica, e chegou mesmo a influenciar o famoso "Drácula" de Bram Stoker. Porém, o resultado mais surpreendente foi o "Frankenstein" de Mary Shelley, que ficou eternizado.
Entre os vários temas que Mary Shelley navega em seu romance, talvez o principal seja a relação entre a criatura e o criador, em clara analogia entre o "monstro" e Frankenstein, e o homem e Deus, o que é enfatizado pela epígrafe no início do livro, retirado de "O Paraíso Perdido" de John Milton, e que diz:
"Pedi eu, ó meu criador, que do barro
Me fizesses homem? Pedi para que
Me arrancasses da trevas?"
Algumas questões que Shelley suscita são: Teria alguém permissão para criar um outro ser vivo? E se sim, valeria o preço a se pagar? E o ser criado deveria ser grato ao seu criador, por viver?
Algo também que nos faz questionar na obra de Shelley é: seria a criatura ou o criador o verdadeiro "monstro"? Victor tinha intenções nobres ao tentar vencer a morte através da ciência, contudo, ao ver o "fracasso" de seu experimento, agiu de certa forma cruelmente ao ignorar os sentimentos do ser vivo que criara, e por vezes a criatura é mais humana que ele, o que talvez o torne mais monstro que a sua criação de aparência monstruosa.
O que é a vida? Para alguns uma benção, mas a obra de Mary também nos faz pensar o quão ela pode ser uma maldição, e que muitas vezes, ser feliz não depende principalmente de nós, e sim das pessoas que nos rodeiam. O "monstro" criado por Frankenstein é infeliz porque não é amado, e depois, esta falta de amor que se torna tristeza e solidão, transforma-se em ódio e desejo de vingança. Deste modo, Mary Shelley expõe a ideia de que não nascemos maus, é a sociedade que nos corrompe, e fala sobre a importância de amar e ser amado.
Enfim, uma obra forte, autêntica, emocionante e bem atual (ao tratar de problemas sociais atemporais como o preconceito, o egoísmo e a discriminação), que fará o leitor refletir sobre a vida, o amor, a virtude, justiça, ética, entre tantos outros assuntos, além de a obra ser precursora da ficção científica. O livro gerou dezenas de adaptações cinematográficas, entre elas:
- "Frankenstein" (1910) de Thomas Edison,
- "O monstro de Frankenstein" (1920) de Eugenio Testa,
- "Frankenstein" (1931) de James Whale,
- "A noiva de Frankenstein" (1935) de James Whale,
- "O filho de Frankenstein" (1939) de Rowland Lee,
- "A maldição de Frankenstein" (1957) de Terence Fisher,
- "A vingança de Frankenstein" (1958) de Terence Fisher,
- "O monstro de Frankenstein" (1964) de Freddie Francis,
- "...E Frankenstein criou a mulher" (1967) de Terence Fisher,
- "Frankenstein tem que ser destruído" (1969) de Terence Fisher,
- "Os horrores de Frankenstein" (1970) de Jimmy Sangster,
- "Frankenstein e o monstro do inferno" (1973) de Terence Fisher,
- "O jovem Frankenstein" (1974) de Mel Brooks,
- "A prometida" (1985) de Franc Roddam,
- "Frankenstein: o terror das trevas" (1990) de Roger Corman,
- "Frankenstein de Mary Shelley" (1994) de Kenneth Branagh,
- "Frankenstein" (2004) de Kevin Connor,
- "Frankenstein" (2007) de Jed Mercurio,
- "Frankenweenie" (2012) de Tim Burton,
- "Frankenstein: entre anjos e demônios" (2013) de Stuart Beattie,
além de ter servido de inspiração para o filme "Edward, mãos de tesoura" (1990) de Tim Burton.
Em 2018, foi lançado o filme “Mary Shelley” sobre ela e o seu marido Percy Shelley.
A autora, Mary Shelley, depois de "Frankenstein", ainda escreveu os romances "Valperga" (1823), "O Último Homem" (1826), "Percy Warbeck" (1830), "Lodore" (1835), "Falkner" (1837) e o livro de relatos de viagens "Passeios na Alemanha e na Itália" (1844).
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