Poema de Fernanda Miranda
Fugi do abismo... porém quando me dei por mim já estava em queda livre Não quis mergulhar mas quando me dei por mim já estava em águas profundas Tive medo de ficar só mas quando me dei por mim percebi que a solidão teria me salvo Tive receio do terrível fogo e quando me dei por mim já sentia a quentura das chamas Reneguei a atroz luxúria e quando me dei por mim vi meu corpo ardentemente corrompido Sempre temi dor e sofrimento mas quando me dei por mim me doía e inflamava meu grave erro Não esperava perder minha confiança na luz mas quando me dei por mim já havia me perdido drasticamente dela Não esperava perder minha pureza mas quando me dei por mim já havia caído e perdia minhas asas Não procurava a Estrela da Manhã mas quando me dei por mim estava a contemplar o céu escuro e admirar seu brilho e sua decadência Tive medo de me embriagar mas quando me dei por mim já estava a apreciar o vinho dos tempos Tive receio do conhecimento oculto mas quando me dei por mim estava cada vez mais cúmplice dele Fugi da sabedoria proibida mas quando menos me dei por mim ela me alcançou sem que eu esperasse ... Minha esperada e Soturna descoberta Tive desconfianças da escuridão e quando me dei por mim. já estava por inteira nas sombras Tive receio do anjo decaído... e quando me dei por mim já estava envolta em seu manto negro Recusei a total ausência de luz um dia mas sem me dar por mim já havia iniciado um caminho na noite um caminho através das trevas um caminho para Lúcifer... Atraente e obscura perdição Meu sedutor abismo...
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