Poema de karin poetiza
Como poderei, neste momento,
neste desalento, nesta angústia,
arrancar de mim, de dentro de mim,
o monstro que em mim germinou!
Desenvolveu-se, absorvendo-me,
crescendo em minhas carnes,
infiltrando-se em meus ossos?
Terei eu, fraca, triste e louca,
a força, a coragem, o escrúpulo,
para extirpá-lo, para erradicá-lo,
sem que dele restem, arraigados,
restos, permanecentes pedaços,
em minhas carnes e ossos?
Perambulo de um lado ao outro,
entre o norte são e o insano sul;
da gelidez polar ao ardor desértico,
do desespero, da mortalidade...
Enquanto eu a esmo, vagueio,
ele sussurra, ele geme, ele GRITA!
E, ao mirar-me no espelho,
eu o vejo gargalhando,
sarcasticamente me desafiando,
a destruí-lo, a aniquilá-lo.
Ah, como eu o odeio!
Como me desprezo por haver permitido
que tão hediondo e repugnante ente,
Dentro de mim, nascesse;
Em mim, prosperasse.
De dentro de mim, irrompesse!
Eu o reconheço, agora, à minha frente!
Fito seu escárnio esvaindo-se
de sua bocarra em rubro salivar...
Aspiro seu asqueroso fedor
emanando de seus poros,
das dérmicas protuberâncias,
dos apêndices córneos e escamosos.
Ouço o meu próprio brado,
um desumanizado berro
de minha humanidade roubada!
De minha humanidade devorada,
humilhada e desprezada
pelo tétrico e peçonhento demônio!
Ser que estende suas aterradoras garras,
entregando-me afiadíssimo punhal,
armando-me para o desfecho,
para a abjeta conclusão de seu domínio.
Aceito e empunho o infernal gládio e,
em um único gesto, fendo meu abdome!
Dele, vertem nojosas vísceras,
que se espalham pelo chão, e caio
entre a imundície de pedaços, fluidos,
em meio a urros, risos, impropérios!
Agonizante, percebo que, quem morre,
sou eu. Sou eu quem tomba, refletida,
aprisionada no terrífico espelho!
Ele? Ele vive. Totalmente liberto de mim.
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