(I)
À noite, quando tuas cartas leio,
É como se ouvisse uma voz divina,
Que me afaga a alma em eviterno anseio,
Findando em meu coração a neblina.
E a solidão, outrora um triste enleio,
Preenche-se de algo que me fascina,
Algo que não sei se é um devaneio,
Mas que à minha escuridão ilumina.
Sim, qual se aqui estivesses, Melissa!
E eu pudesse tocar-te a face bela,
Vendo de perto o olhar de luz mortiça:
Teu olhar distante de Cinderela,
Que cada um dos meus pesares vela,
E tão doce e profundo me enfeitiça!
(II)
Vi-te em sonhos, Melissa, e tu choravas...
Circundava-me uma noite eterna,
Mas de ti emanava uma luzerna
E assim, embora triste, me alumiavas!
Esta luz – teu Amor que suspiravas! –
Ora me encanta e alegra, ora me inferna,
Pois é tão-só um sonho que te eterna
Em minh'alma – onde já quase expiravas! –
Pelas lágrimas tuas compreendi
Que a minha dor era a mesma de ti:
Poder apenas ver-te e jamais tocar-te!...
E ora cismo: o quão atra é a existência
Sob o infindo amargor de tua ausência,
Ao não me consolar nem mesmo a Arte!
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