Interiores entregues à lua negra;
Interiores na volúpia santa e demoníaca,
eu e ela entre mundos do além-túmulo e trevas, castidade e fogo e frio,
eu e ela
no meu castelo cemiterial e profundo... como a escuridão. Nosso primeiro encontro foi na floresta perto daqui, e tinha um teor de paixão à primeira vista. Ela estava vestida de ossos, carne, pele... exceto a alma -- com uma veste negra e longa até seus pés e pescoço. Eu estava vestida de cadáver e sedas pretas e brancas. Entramos pelas portas do meu mausoléu na ventania violenta, era dia de tempestade forte, o céu se fechou de uma forma como se o apocalipse tivesse possuído nosso mundo. Sim, entramos e nos saudamos castamente com vozes de Nosferatus! Um cálice de sangue antigo e uma rosa velha em cima do órgão. Subimos a escadaria de mãos dadas, levei o cálice, e na minha cama alta nos deitamos. O frio era nefasto como nossas sombras, mas o calor comia nossos poros. Por cem séculos nossa paixão vingou, e daquele cálice ela tomou inesperadamente. Eu me surpreendi com tal atitude, pois tinha o meu sangue nas suas veias e envolvendo o seu crânio; Por cem séculos entre voos em tetos e chãos, com risadas maléficas e sobrenaturais, em qualquer lugar de noite; fosse em catedrais, na cidade, em nosso castelo... Estávamos condenadas. Ontem, em certa hora da madrugada, a lua negra chegou e nos colocou frente a frente do espelho no nosso quarto. Eu não tinha alma, ela não tinha alma e a lua, submissa ao fogo do Inferno, desceu do céu e com mãos de fada nos ceifou os espectros.
Hoje já se faz madrugada alta e atingimos o ápice da luxúria, e assombramos o castelo que está abandonado àquelas mãos de fada, nosso sumiço do mundo e de qualquer região, está agarrado ali em ossos e esqueletos, estamos presas e punidas até que a Morte venha nos ceifar...
... para nos trazer de volta a alma. Acreditem, é uma carta de duas vampiras que talvez amanhã façam noite em seu quarto. Prometo, vamos entrar com rosas.
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