Da antologia Soturnos - Volume 4 (publicação de 2019), separamos o poema de Douglas Sinsuk - um dos destaques de nosso Sarau dos Malditos, com narração de Sr. Arcano.
De acordo com o poeta, o texto retrata os últimos dias de um velho que acabará de perder sua esposa para uma doença terrível. Recusando-se a deixá-la partir, ele resolve permanecer com ela durante semanas, até o fatídico dia do seu suicídio.
Leia (e ouça) o poema em nosso espaço soturno...
Sentada em sua cadeira ela permanece.
Em dias escuros quase não vejo mudanças.
O adoecer cadente nos seus dias.
A luz não encontra passagem.
Sentada em sua cadeira ela permanece,
Ouvindo meus contos como ontem.
Serena e calma como a noite.
Ao som dos pássaros noturnos.
Sentada na sua cadeira ela permanece,
Com sua vida inexistente,
Seus olhos cinzas fixados em mim.
Seu perfume fétido no ar.
Sentada em sua cadeira ela permanece,
Ouvindo os velhos discos,
Olhando os velhos quadros,
Se escondendo da luz.
Sentada em sua cadeira ela permanece,
Servindo de alimentos para pequenos animais.
Sendo minha única companhia.
Escondendo minha solidão.
Sentada em sua cadeira ela permanece.
Como esteve nos últimos anos.
Como a encontrei no último dia.
Os sinos estão tocando pela última vez.
Sentada em sua cadeira ela permanece,
Junto-me a ela uma última vez.
Sinto os ossos da sua mão.
Sinto o frio da sua alma.
Sentada em sua cadeira ela permanece,
E por fim permanecerei.
Finalmente permanecerei.
A luz não nos encontrará.
Antologia Anual Soturnos - Volume 4 (edição de 2019)
Poesia Maldita Nacional Contemporânea
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